segunda-feira, novembro 30, 2009

dessas noites em que estava lavando pratos

estudo desenho/ rafael godoy


o detergente faz espuma na pia
os pratos ficando limpos no escorredor
os pensamentos sujos quero um cigarro
uma música um blues o céu escuro
meus gatos escondidos em silêncio

duas taças de vinho quase cheias
os pés no chão e pálidos
uma janela uma luz acesa do outro lado

as garrafas de vinho abertas e vazias
leio os rótulos e penso num poema
um inseto esquisito vindo de outro lugar
voa em torno das garrafas vai até a luz e volta
o tempo não tem pressa meus olhos o seguem

os pratos vão ficando limpos
as panelas ficam pra depois

pego uma taça e dou um gole
acompanho o blues num inglês ruim

o inseto se vai e bebo mais
olho a noite escura os pratos brancos
alguém me espera no sofá

estranho pensar no abandono de toda ambição

quarta-feira, novembro 25, 2009

hoje tem!!

Pessoas queridas, hoje tem um poema meu no Maria Clara Simplesmente Poesia. Não é inédito, mas se quiserem conferir é só clicar AQUI. Beijão.

quarta-feira, novembro 18, 2009

apelo

estudo para tela/ desenho de mulher/ rafel godoy

traz para mim os dias que não vivi
todas as noites perdidas
e o sorriso que não tenho mais

vai lá e busca o que me cure
sem que doa ou que arda
apenas que alivie

encontre o que deixei cair na estrada
os poemas esquecidos nas gavetas
e as músicas que não ouço mais

molhe os pés no mar
porque aqui só há montanhas
e jogue uma flor pra iemanjá

deixe seu cheiro espalhado
compre uma garrafa de champanhe
velas amarelas e incensos de baunilha

estou aqui do outro lado e juro
tem uma lua enorme no céu da cidade

segunda-feira, novembro 16, 2009

A noite de Heitor

rafael godoy

De algum lado da cidade vinha um frio estranho para essa época do ano. Heitor abriu a janela, a pequena janela do seu quarto fedido e imundo. Colocou o rosto para fora e sentiu um vento meio de lado, que não parecia pertencer àquele lugar. Olhou para cima, para baixo, para os lados e viu que não tinha ninguém nas outras janelas, só ouviu um ruído, quase como um sopro. Lembrou-se da noite que tivera com uma mulher. Uma noite quente, extremamente, quente.. Os lençóis estavam fora do colchão, e havia restos de uísque nos copos, pontas de cigarro nos cinzeiros e um cheiro de quase morte. No chão, além da calça jogada , um batom sem a tampa, um papel de chocolate. Ao entrar no banheiro, notou que o gás estava ligado e que a água do chuveiro caía continuamente sobre o azulejo. Fechou a torneira, o vapor condensava-se no espelho da pia. Heitor passou a toalha no espelho e o que viu o assustou. Era um outro homem o que estava ali: os olhos vermelhos, a pele envelhecida, o cabelo desarrumado, a barba por fazer. A última imagem que tinha de si não era essa. Pegou o aparelho de barbear, ensaboou o rosto e fez a barba. Entrou debaixo do chuveiro e ficou algum tempo se limpando com o sabonete de erva-doce que alguém havia lhe dado. Enxugou-se com uma toalha limpa. Vestiu uma calça jeans, uma blusa branca e saiu do quarto. Ao abrir a porta da sala, notou um bilhete debaixo da porta. Era dela, de Valeska, a mulher da noite. Uma lufada de ar gelado rompeu pela porta e o envolveu. Ficou ali parado, olhando o vazio do corredor.


segunda-feira, novembro 09, 2009

hoje tem!

Ei vocês! Hoje tem poema meu no poema dia.
Se quiserem conferir é só clicar AQUI. Beijos.